16 de março de 2013

Recordando "Parker Lewis Can't Lose"

Num jantar a conversa calhou referir algumas séries de há muito tempo. Ao detectar uma confusão entre “Saved By the Bell” e “Parker Lewis Can’t Lose” recordei uma época em que a televisão parecia ter todas as respostas e tudo o que transmitia era entretenimento. E percebi que Parker Lewis andava esquecida desde que a TVI a trouxe, quando o quarto canal era uma novidade. Lembrava-me das personagens, de algumas frases e sabia que a nível visual era uma compilação de tudo aquilo que pensamos dos anos 80. Quando somos invadimos pela nostalgia, nada como rever um programa de antigamente. Pois revi-a e aqui fica uma opinião, 20 anos passados.

Estamos na escola secundária San Domingo, em 1990. Os anos 80 deixaram a sua marca, mas a moda dos 90 quer-se impor entre os jovens. O narrador e nosso guia é Parker Lewis, um popular rapaz que disfruta da adolescência como poucos. Os seus maiores amigos são Mikey Randall e Jerry Steiner. Enquanto um está mais virado para rock e motas e é pouco dado aos estudos, o outro é um pequeno génio em busca de aprovação. Juntos fazem uma equipa invencível que se safa de qualquer situação e ainda gere um grande negócio.
A família de Lewis é ainda composta pelos pais, alegres proprietários do videoclube Mondo Video, e pela irmã Shelly, uma pequena fera que quer destruir o irmão mais velho.
Um inimigo ou aliado dependendo dos dias é Larry Kubiak, o gigante de bom coração com pouca inteligência. A escola é gerida com pulso de ferro pela implacável Grace Musso (carinhosamente chamada de Mussolini) e pelo seu fiel auxiliar de obediência Frank Lemmer. Normalmente é contra esta dupla ou contra a própria irmã que Parker tem de agir. Mas sem perder a compostura ou estragar a poupa no cabelo porque é importante ter estilo e ser fixe.

Uma série é recordada pelas mensagens subliminares que espalha. As frases que as pessoas repetem no seu dia-a-dia para serem socialmente aceites por verem a série certa. Neste caso a frase era “Gentlemen, synchronize Swatches!” pois significava que tinham o relógio da moda e que estavam alinhados com os companheiros. A catch phrase de Lewis era “Not a problem!”, mas essa não pegou tão bem.

Temporada 1

Os 90
Não acreditem em tudo o que ouvem na televisão. A tecnologia não surgiu neste último ano. Em 1990 já havia câmaras, gravadores, intercomunicadores e o telemóvel aparecia a cada dez episódios, não a cada dez segundos. Nesta série vão poder ver como equipamentos autónomos, as funcionalidades que hoje são parte do smartphone. São grandes, pesados e podem ser sabotados se Shelly cortar o cabo. Por isso é que é preciso ter sempre um plano B. Independentemente do tamanho, o sobretudo de Jerry tem espaço para todos os aparelhos. Sejam uma guitarra eléctrica, uma fotocopiadora, um urso de peluche ou um chocolate quente, tem mais tralhas que o goonie Data e quase tantas como Inspector Gadget.

Os 80
Parker tem a felicidade de trabalhar quando quer (ou quando o obrigam) no Mondo Video. Para quem não conhece o conceito de videoclube de então, é como as boxes de televisão, mas as pessoas saíam de casa para escolher o filme com base nos conselho de um cinéfilo fervoroso e levavam-no numa VHS que tinham de devolver rebobinada (outros dois conceitos interessantes para historiadores). Era como alugar DVDs em vez de os comprar. Ora este local mítico e todos os espaços que Parker tinha como seus, tinham as paredes carregadas de posters dos êxitos dos anos 80. E se é fácil reconhecer “Die Hard” com Bruce Willis em destaque, quando mostram apenas um terço do poster de “The Wizard of Speed and Time” não se chega lá tão facilmente. É uma divertida viagem à década dourada do cinema de massas.

Os 70
Ms. Musso por duas vezes tenta recuperar a magia da sua adolescência. Uma é quando faz a festa “Vinte Anos Depois” para abrir a cápsula do tempo perante os seus ex-colegas, e outra quando organiza o baile de finalistas à sua moda para ser como aquele que nunca teve. Isto duplica o revivalismo pois em vez de recuarmos 20 anos, são 40. E os anos 70 de então continuam a ser recordados assim no século XXI.

Os 60
Uma rádio pirata escondida no sítio mais improvável dá o mote para uma viagem no tempo. Como o episódio anterior tinha sido precisamente o primeiro sobre os anos 70, o modo nostalgia estava bem forte. Como se a série quisesse alargar o público-alvo a outras gerações. Uma jogada ousada e que teria corrido bem, se não fosse tão anos 90 em tudo o resto.

Os valores transmitidos pela série são os habituais. Amizade, responsabilidade, coragem, lealdade, reciclar. Engatar umas miúdas por diversão, mas saber que a qualquer momento vai aparecer uma que nos leva o coração. E também que por muito que alguém deteste a irmã mais nova, será sempre responsável por ela. Um dia talvez se tornem amigos.
Quanto à série em si não vale a pena ver do início. Nenhum dos episódios correspondeu às expectativas que tinha em memória. Espreitem alguns episódios para recordar, mas é só isso.

Temporada 2

Na segunda temporada há diferenças logo desde o início. Já nao é sobre uns miúdos rebeldes que se querem destacar na escola. Agora são jovens responsáveis contra o mundo. Há uma viagem no tempo para o final dos anos 60, mas é muito discreta. É fundamentalmente sobre mudar a própria época. E Miss Musso é mais vezes aliada do que inimiga.
Há duas alterações importantes no elenco. Ao sexto episódio aparece Nick (Paul Johansson), um empregado de bar diferente de todos os outros. É um homem que as mulheres desejam ter e os homens desejam ser. E ao mesmo tempo é a voz da consciência de todos eles, ensinando-os a ser honestos, trabalhadores, responsáveis e aconselhando em todas as dúvidas existenciais que a juventude traz. A outra contratação é Annie Sloan (Jennifer Guthrie) que vai agarrar o coração de Parker bem a meio da temporada.
Por incrível que pareça, a série mudou completamente. Mantendo o tom jocoso do primeiro ano, ganha muito nos temas tratados e nas mensagens transmitidas. Fala de como educar pais e filhos, de liberdade de expressão, do verdadeiro amor e de tomar decisões para o futuro. E a escola parece mais convidativa porque em vez de ter uma excelente professora, tem três.
Esta temporada merece ser vista, até porque é um mergulho bem mais divertido na cultura popular de então, nem faltando a devida homenagem a outras séries. Os episódios que recordava eram praticamente todos desta, talvez porque então eram estes temas que me diziam mais.

Temporada 3

Ao contrário das duas anteriores esta temporada não se passa em tempo de aulas, mas em férias. A mudança de contexto não corre muito bem, pois andam à deriva sem a escola e sem Nick. O poder do sol também afastou o vampiresco Lemmer, mas surgem duas novas personagens: o treinador Hank (John Pinette) e o marginal com bom coração Brad Penny (Harold Pruett).
O treinador é um refúgio cómico mal arranjado, sempre atrás de Miss Musso. Brad Penny é um mistério, servindo de tema para quase todos os episódios, mas nunca sendo devidamente destacado. Os temas elegidos para esta temporada poderão ter parecido interessantes, mas não se aproximam minimamente dos que tornaram a anterior lendária.
Sensivelmente a meio há um regresso às aulas que melhora o nível da narrativa, mais próxima do que foi a temporada anterior, e com muitos temas relevantes em discussão. É sol de pouca dura. Aproveitam-se dois episódios entre todos. A ideia estava gasta e tinha passado a sua época. A série preparava-se para acabar sem deixar saudades, mas tinha de ter um último episódio. E tinha de ser uma colecção de flashbacks com o melhor que Parker Lewis e amigos tinha vivido em Santo Domingo nestes três anos.
O episódio final é tão fraco que dá vontade de parar de ver ainda antes de acabar. Recorda-nos novamente que o mais importante da juventude não são as aulas. Apesar de essas nos darem o conhecimento e nos prepararem para sermos alguém na vida, o que conta e recordamos são os amigos e os momentos que passamos com eles. Porque independentemente do que a vida nos reservar, precisamos é de alguém que esteja ao nosso lado nos maus momentos e com quem partilhar os bons. E isso constrói-se mais facilmente no café do que na escola. Na segunda temporada correu muito bem, nesta foi o pior episódio sem margem para dúvidas.

É certo que na época em que a série foi transmitida eu era mais jovem e ingénuo, e absorvia tudo o que a televisão dava. Hoje em dia é quase o extremo, sou demasiado crítico com o que vejo. No entanto a nostalgia torna-nos sempre mais brandos com aquilo que nos viu crescer.
Se me quiserem imitar e cometer o erro de rever esta série, sigam este precioso conselho. Vejam apenas a segunda temporada. Essa é a que educa, a que diverte, a que deixa saudades. Essa é a que tem a essência do que foi crescer a ver “Parker Lewis Can’t Lose”.

Nota: podem ver o que é feito dos actores num artigo antigo do Imagens Perdidas. Podem reconhecer até alguns dos actores convidados, mas os mais sonantes são Weird Al Jankovic e a actriz convidada do episódio piloto, uma jovem chamada Milla Jovovich no seu último papel televisivo antes de fazer “Return to the Blue Lagoon” que a lançou para uma carreira mundialmente conhecida no cinema.

2 comentários:

Unknown disse...

Olá Antestreia.
Como é bom recordar uma das minhas séries preferidas de todos os tempos. Revejo nesta critica toda a minha experiência. A nossa inocência era realmente imensa e tudo aquilo que absorvíamos moldava a nossa mente. E ainda bem que foi com exemplos destes. Antes assim fosse hoje em dia.
Abraço e obrigado pela recordação.
Bruno Azevedo

Antestreia disse...

Obrigado pelo comentário. Fiquei um pouco desiludido ao rever, pois era um espectador bem menos exigente na altura. Agora estou a ter outra desilusão com os Thundercats. Aquilo era tão bom há 20 anos, não percebo como parece mau agora :)